Já pensou o quanto a vida é contínua inconstância de coisas, sentimentos, momentos e por vezes contradições? O quanto você reconhece e dialoga com os opostos que existem aí dentro?
Encontrar em si recursos para minimizar a dor psíquica é um dos objetivos da psicoterapia. O processo possibilita acolher a angústia e dar espaço para relembrar, rever, refletir, reconhecer, reagir, religar, respeitar. Um caminho que se constrói pouco a pouco, como um degradê de cores: em que se parte daquilo que está claro, consciente - uma questão, um incômodo, algo que vem gerando sofrimento e angústia - e que aos poucos, proporciona um caminhar para dentro de nós mesmos em profundidade, para aquilo que até então era desconhecido.
Durante a psicoterapia, somos convidados a reconstituir fatos, memórias, devaneios, relações e emoções. Debruçar-se sobre a sua história é fazer um retorno ao passado com os olhos de hoje, do presente. Além do conteúdo, aspectos também são revelados na forma como contamos a nossa história de vida, na maneira como falamos sobre nós mesmos. Afinal, quem dentro de mim está narrando?
Isso significa acessar partes de quem fomos, partes de quem somos. Um trabalho artesanal e profundo. Um resgate pela fala, no ato de contar. Mais do que contar para o psicoterapeuta/analista, o ato de contar é antes de tudo, um contar e recontar para si mesmo. Um processo que possibilita ampliar o olhar, atribuir outros sentidos, ressignificar.
“É o sentido que nos sustenta na vida: enquanto houver um sentido, pode-se viver,
mesmo em condições muito pouco favoráveis.” (Marie-Louise von Franz)
O trabalho terapêutico não é óbvio, não oferece respostas prontas e estruturadas. Talvez você já tenha ouvido a seguinte queixa em relação a psicoterapia: “mas meu psicólogo só me escuta...” É claro que a diversidade de abordagens na Psicologia proporciona diferentes práticas clínicas, mas de forma geral a escuta – qualificada – é realmente uma das principais ferramentas do psicólogo no contexto clínico.
Na Psicologia Analítica, abordagem que utilizo para orientar meus atendimentos, entendemos que escutar significa estar presente e atento, exige delicadeza, sensibilidade e cuidado. Por isso, além de acolher, cabe ao terapeuta saber ouvir o que está por trás do sintoma, e muitas vezes retornar, relembrar, questionar e propor reflexão. O espaço terapêutico é justamente para falar daquilo é difícil, que não tem forma, por vezes não sabemos bem como explicar ou nomear, e que gera desconforto.
A psicoterapia permite que aos poucos - a partir do cultivo da alma, da descoberta de sutilezas, da ampliação do olhar para a nossa própria vida - nos tornarmos mais íntimos de nós mesmos.
"A análise se assemelha a lições das mais difíceis de todas as formas de arte - a arte de compreendermo-nos a nós mesmos em profundidade. Trata-se de uma arte que jamais é completamente dominada. A revisão de nós mesmos junto com outra pessoa sempre pode ser valiosa" (James A. Hall)
Carolina de Souza Santos
CRP 08/19813
Comentarios