Chegamos em dezembro. Olhamos para o ano que passou na busca de perceber o que fizemos, o que deixamos de fazer, o que aprendemos. Olhamos para o ano que se aproxima com esperança e expectativa. Mais do nunca é importante problematizar o discurso que desconsidera o contexto e responsabiliza o indivíduo. A falácia de que "só depende de você" é perigosa, até perversa em alguns casos. Esse discurso nos permeia, por vezes se faz presente de forma sutil - nos cobramos internamente, somos cobrados externamente.
É preciso contextualizar 2020: ano atípico, confuso, tumultuado, de muitas incertezas; ano que já está marcado na história, na pele, na alma; tempos de pandemia, que não só escancara nossa condição humana de vulnerabilidade, como também uma sociedade doente e desigual - não estamos, nunca estivemos no mesmo barco, e entrar em contato com essa realidade dói.
É preciso SE contextualizar. Explico, é preciso refletir internamente sobre a sua vida no contexto de pandemia. Aqui, algumas perguntas que podem nortear sua reflexão:
Como vivi este tempo?
Quais impactos a pandemia me trouxe?
O que aprendi sobre mim mesmo, sobre as minhas relações com o outro e com o mundo?
O que foi possível dentro do meu contexto?
Quais foram as minhas dores?
O que ainda está doendo?
O que posso fazer no próximo ano com os recursos que tenho?
Refletir sobre 2020 e fazer planos para 2021 passa por reconhecer a pandemia como momento histórico, como momento de travessia. Passa ainda por reconhecer que esse tempo nos atravessou de forma singular e subjetiva. É preciso elaborar as perdas, as dores, o luto de tudo que foi vivido e também da vida não vivida. É preciso abraçar a sua inteireza, todas as suas partes, os papéis que desempenhou, os papéis que desempenhará no ano que se aproxima.
Nada de mágico mudará do dia para noite e talvez retrospectiva tenha a ver com acolher a dor e a alegria; os erros e os acertos; os imprevistos e as boas surpresas da vida. Planejar o novo significa reconhecer todos esses aspectos, ressignificar o que for possível, incorporar como aprendizado e integrar as cicatrizes como parte de quem se é.
Desejo que ao pensar sobre seu 2020-2021, você seja gentil consigo mesmo, com a sua realidade, suas dores, suas dificuldades e faltas. Desejo que você se acolha. E se acolher passa por dar espaço e voz, não silenciar ou minimizar o que dói. Se acolher nesse nível de profundidade pode ser o possível - e acredite, pode ser muito - para uma virada de ano, que no mínimo, será diferente.
Carolina de Souza Santos
CRP 08/19813
Comments